Direto no problema e sem meias palavras, me desculpo antecipadamente pela dureza necessária.
Em alguns momentos precisamos olhar para dentro, e reconhecer nossas próprias falhas. Nós umbandistas, não podemos ficar apenas observando e nos defendendo dos ataques que sofremos pelos preconceitos sociais, e fazendo vista grossa para os pontos que precisamos melhorar.
A Umbanda, ou melhor, a organização umbandista, possui dois graves problemas, que causam consequências desastrosas. Ambos estão relacionados. Um são os umbandistas que ignoram as etapas sacerdotais, aqueles que “recebem” um Caboclo aqui e um Preto-velho ali, e já se julgam prontos como médiuns. O outro problema é a importância que alguns dirigentes dão em ter um número cada vez maior de médiuns em suas correntes, a qualquer custo.
Não há melhor forma de entendermos a Deus, na minha visão, do que lendo o compreendendo o que a natureza nos diz. Uma árvore dá frutos apenas depois de suas raízes estarem firmes na terra. Primeiro, antes dos frutos, as raízes precisam alimentar a própria árvore. Proporcionar seu crescimento e sua resistência, além da vida, da cor e do aroma em suas folhas.
É comum vermos médiuns que iniciam na Umbanda e se deslumbram ao perceberem o conhecimento espiritual de “seus” mentores, ou a crença que estes podem despertar em algumas pessoas. Logo, às vezes até munidos de boas intenções, mas envaidecidos e ignorando as etapas sagradas de um sacerdócio, se acham aptos a realizar seus próprios trabalhos espirituais, na maioria das vezes em suas próprias casas.
Ressalto que não tenho nada contra trabalhos espirituais domésticos, um sacerdote é um sacerdote em todos os lugares. Capaz de concentrar energias e dissipá-las depois, quando necessário. Mas desta forma, um médium iniciante, também é um médium iniciante em todos os lugares.
A vaidade espiritual os afasta dos locais onde começaram sua vida mediúnica, muitas vezes revoltados pelo fato do seu dirigente, conhecendo-o bem, e sabendo a etapa espiritual em que se encontra, ainda não o autorizá-lo ao atendimento público com “suas” entidades. Desta forma, o médium em questão parte em busca de outro templo para trabalhar.
Infelizmente, em muitos casos, chegando lá contam a sua versão da história para o outro dirigente, e este, na busca infundada por um número de filhos espirituais cada vez maior, concorda com o iniciante, acolhendo-o e dando-lhe as palavras que ele busca, porém não as que ele precisa.
Tal comportamento só prejudica o médium, que tende a se envaidecer cada vez mais, e logo abandona mais uma casa espiritual, para iniciar seus próprios trabalhos de Umbanda em seu lar. Neste ponto, dificilmente o médium volta atrás, e numa teia de mentiras, dúvidas, e mal entendidos, vai se prendendo cada vez mais, prejudicando a si e a outros.
Na maioria das vezes, dois caminhos esperam este médium: O abandono da religião por notar que sua vida ficou toda atrapalhada, colocando a culpa disso em “seus” mentores e alegando não receber ajuda para seus próprios problemas; ou o definitivo afastamento de “seus” mentores, o que dará lugar a outros espíritos não comprometidos com as Leis divinas, e afinizados com os desequilíbrios do médium.
Este segundo caso é o mais grave, pois estes espíritos darão ao médium, na maioria das vezes, a sensação de um suposto poder, com o intuito que ele continue os servindo.
Falha nossa. Falha que precisamos todos nós, umbandistas que se preocupam com o bem da nossa religião, reconhecer e trabalhar para corrigir.
Em meu entendimento, a conhecida máxima que diz que qualidade vale mais que quantidade, é o que deveria nortear a formação de todas as correntes mediúnicas dos templos de Umbanda, como já norteia a de muitos por este país a fora.
Para os médiuns iniciantes, um conselho: Só se aprende a ser Pai, sendo Filho.
Axé.
Ricardo Barreira
Babalorixá da Aldeia Tupiniquim
Babalorixá da Aldeia Tupiniquim
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